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Dupla Chitãozinho & Xororó analisa o sertanejo

Música - 03/06/2014 16:31


Chitãozinho & Xororó completaram 40 anos de carreira em 2010. Daquele ano até 2012, lançaram três produtos distintos: um CD/DVD ao lado de astros do chamado movimento sertanejo universitário (“A Nova Geração”, de 2010), um projeto com convidados de gêneros distintos que fizeram parte da trajetória da dupla (“Entre Amigos”, 2011) e um show sinfônico em parceria com o maestro João Carlos Martins (“Sinfônico”, 2012).

A proposta poderia até parecer ambiciosa à primeira vista. Principalmente em uma época em que atingir bons resultados com a comercialização de produtos físicos se tornou uma tarefa ingrata. Mas a dupla não se preocupou com esse detalhe. Chitãozinho & Xororó tinham certeza que esses lançamentos que saíram em curtos intervalos não só seriam bem recebidos e absorvidos pelo público, como também ajudariam a contar melhor a história dos irmãos. “Fomos uma das duplas que ajudaram a modernizar o sertanejo, com a inserção de instrumentos eletrificados e bandas de apoio nos shows e discos. Também fomos pioneiros em realizar apresentações em casas de espetáculos das grandes capitais. E o outro grande feito da nossa trajetória foi acabar com o preconceito que ícones de alguns estilos musicais nutriam pelo sertanejo – através de aproximação e parcerias diversas. Então, ao invés do óbvio de registrar nossos maiores sucessos num DVD comemorativo, achamos mais interessante marcar a data com projetos distintos – um mostrando nossa influência no sertanejo moderno, outro em que recordamos parcerias importantes e o terceiro que cria versões sinfônicas dos nossos sucessos”, afirma Xororó. Além desses títulos, a dupla ainda lançou no período o livro “Talento, pioneirismo e sucesso”, que saiu em uma edição luxuosa.

Esses produtos serviram para provar a importância da dupla para a modernização da música sertaneja – que, sem os irmãos, teria demorado muito mais para ser aceita nos grandes centros, rádios FMs e pela classe média. “Quando começamos a carreira, os artistas sertanejos se apresentavam em caravanas, comitivas e outros tipos de pequenos e médios eventos. Nós mesmos tocamos muito tempo em um show itinerante de uma empresa de carnês que entregava carros, cujo evento tinha uma estrutura bem simples. Foi nesse período, por volta de 1972, que sugerimos ao Geraldo Meirelles, apresentador do evento, que o formato do nosso show fosse mudado. Deixamos de tocar com violões e violas acústicas e fizemos uma permuta com a Del Vecchio para nos fornecer instrumentos eletrificados. Em pouco tempo, conseguimos inserir bandas em nossos shows e deixar a música mais pop”, explica Chitãozinho. “Vários artistas contemporâneos a nós, como Léo Canhoto & Robertinho, João Mineiro & Marciano e Trio Parada Dura perceberam que era o momento certo para tirar o sertanejo do gueto e dar um passo adiante. Queríamos atingir um público urbano, já que muitas das pessoas que moram nas grandes cidades são oriundas do interior. O Brasil é muito rural. Mas só foram reconhecer isso depois que as FMs passaram a tocar Fio de cabelo e outros megasucessos”, resume Chitãozinho.

Segundo a dupla, foi nessa época que o Brasil deixou de ser pautado pela produção cultural carioca e reconheceu seu perfil rural. “Como os grandes veículos de mídia eram sediados no Rio, estilos como Bossa Nova e MPB acabaram sendo por muitos anos a música oficial do Brasil. Mas no interior do país e em algumas capitais, o sertanejo sempre fez sucesso. E isso ninguém mostrava. Quando começamos a aparecer na TV, a convite do Silvio Santos, no SBT, o povo passou a notar que o sertanejo não era cafona, como alguns queriam fazer parecer. É uma música rica e, na nossa época, já bem pop, com guitarras, baixo elétrico e teclados. Além disso tudo, eles viram que o visual era interessante. Nós e Léo Canhoto & Robertinho, por exemplo, parecíamos cantores de rock. Essa presença na TV foi tão importante que nossos ‘mullets’ foram copiados por vários homens e mulheres nos anos 80?, completa Xororó.

O evento que realmente abriu as portas para o sertanejo no circuito de shows das grandes capitais do país, porém, foram as apresentações que a dupla fez no sofisticado Palace, em 1988. À época, a casa não recebia shows sertanejos. “Geralmente, tocávamos no restaurante São Judas, em São Bernardo do Campo. Foi quando Tom Gomes, responsável pelos shows do local, percebeu que grande parte dos carros que iam ao restaurante tinham placa de São Paulo. Com esses ‘dados’ em mãos, ele imaginou que um show nosso no Palace seria uma boa ideia. E foi. O Tom conseguiu convencer o dono da casa. E os ingressos para as apresentações se esgotaram com muita antecedência”, recorda Chitãozinho.

Essa popularização ocorrida nos anos 80 nas rádios e no circuito de shows foi responsável direta pelo surgimento do sertanejo que dominou o país nos anos 90 e, posteriormente, pelo movimento universitário. “Antes, o empresário pedia para o motorista ou para a empregada ir às lojas de disco comprar algum vinil sertanejo. Eles tinham vergonha de suas raízes. Hoje isso não existe mais. O estilo está em baladas de gente endinheirada e finalmente se tornou a música pop brasileira. Ninguém mais tem vergonha de dizer que ouve esse tipo de música, até porque ela absorveu muitas influências urbanas”, comenta Chitãozinho.

E essas influências se fundem nas produções de músicos mais novos e também nas de medalhões do porte de Chitãozinho & Xororó. O mais recente CD/DVD da dupla, “Do Tamanho do Nosso Amor” (2013), teve produção de Fernando, da dupla com Sorocaba. Essa aproximação com a nova geração ampliou ainda mais as experiências sonoras dos irmãos. “Depois dos projetos especiais, queríamos dar uma arejada em nosso som, colocar elementos atuais. O Junior (Lima) me mostrou John Mayer e Mumford & Sons e virei fã de ambos na hora. Tanto que já fui duas vezes ao exterior só para assistir shows do John. E o Fernando inseriu guitarras pesadas nos arranjos. O resultado, mais uma vez, é algo fora da zona de conforto. E tem muito do sertanejo moderno, cheio de ideias de artistas que admiramos”, explica Chitãozinho.

TURNÊS E HOMENAGENS

Para poder viajar, descansar, tocar negócios paralelos e se renovar, a dupla, empresariada pela Live Talent, realiza um máximo de oito apresentações por mês. Demanda para mais existe, porém a dupla alega que hoje em dia não seria conveniente ter uma agenda tão inchada. “Eu prefiro fazer menos shows e viajar a cada dois ou três meses com a Noeli. O Chitãozinho consegue se divertir enquanto trabalha, mas eu não. Por isso tenho essa necessidade de dar uma pausa com frequência”, explica Xororó. Essa escolha ajuda também na administração de negócios que ambos tem nas áreas de gastronomia (Montana Grill), loteamentos e agropecuária. “Temos parceiros gerenciando nossos negócios, mas acompanhamos de perto nossos investimentos. Afinal de contas, é o olho do dono que engorda o porco (ou, no nosso caso, o boi)”, conta Chitãozinho.

Apesar de ocupados com negócios em várias áreas, a dupla chegou até mesmo a cogitar a apresentação de um programa de TV. O convite partiu de uma afiliada da Globo em Minas Gerais. Chitãozinho & Xororó gravaram o piloto, que foi apresentado para a sede da emissora, no Rio. “Eles gostaram tanto que cogitaram transmitir a atração não só em nível local, mas em rede nacional. Porém, a grade da Globo não tinha espaço para uma atração do tipo naquele momento. Por isso o projeto está em banho-maria”, explica Xororó.

Em paralelo, a dupla também pensa em fazer um filme contando detalhes da vida e da carreira. “Gostamos muito de ‘Dois Filhos de Francisco’ e queremos também fazer um filme contando nossa história. Já entramos em contato com o autor Benedito Ruy Barbosa para ele estar à frente da produção. De qualquer forma, a partir de 2015, quem quiser conhecer um pouco mais da nossa história, poderá visitar o museu que será construído em nossa cidade natal, Astorga, no Paraná. Terá discos, figurinos, instrumentos e objetos variados relacionados à nossa vida e carreira”, garante Chitãozinho.

Fonte: Portal Sucesso

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