Ao cruzar a baía de Marajó no último dia de abril, o navio Taurus Ocean carregado de soja escancarou apressado uma nova porteira para a logística do agronegócio do Brasil, país eficiente nas fazendas e de infraestrutura ainda sofrível.
As 60 mil toneladas que a embarcação carregava para a Espanha foram as primeiras escoadas por um corredor ligando as lavouras de Mato Grosso (maior produtor do Brasil) ao promissor porto de Barcarena, no Pará, por meio de rodovias e rios até agora pouco explorados.
A rota, que inclui a polêmica e ainda inacabada rodovia BR-163, além das hidrovias do Tapajós e do Amazonas, deverá tornar-se nos próximos anos a principal alternativa à exportação de grãos pelos saturados portos do Sul e do Sudeste do país.
O revolucionário trajeto para a competitividade agrícola do Brasil, no entanto, ainda apresenta desafios, especialmente neste momento em que obras ainda precisam ser finalizadas no corredor logístico, que cruza uma área bastante preservada da Floresta Amazônica, expondo preocupações sociais e ambientais.
Em um caminhão carregado com 50 toneladas de soja, o motorista Kleber Silva de Souza começou sua viagem em Sorriso, maior município produtor de grãos do Brasil, no norte de Mato Grosso.
Três dias, mil quilômetros e muitos atoleiros depois, ele chegou ao novo terminal da Bunge no distrito de Miritituba, município de Itaituba (PA), às margens do caudaloso rio Tapajós, onde agora ocorre o embarque de soja em barcaças com destino a Barcarena, para ganhar depois o oceano Atlântico.
"Não quero mais voltar. É muito buraco, muita lama", disse ele à Reuters, ao lado do caminhão, antes de descarregar em Miritituba. "Subi a última ladeira arrastado por um trator do Exército."
O trajeto, que vem sendo cada vez mais utilizado nos últimos meses, é feito basicamente pelo trecho paraense da BR-163, uma rodovia aberta no meio da selva na década de 1970 e que até hoje não está completamente asfaltada. As obras começaram efetivamente em 2009 e, após incontáveis atrasos, o governo federal promete conclui-las no ano que vem.
Fonte: Reuters