Há três décadas, Darci Antonio espera a duplicação do trecho sinuoso e esburacado da Serra do Cafezal na rodovia Régis Bittencourt, principal via de ligação entre o Sul e o Sudeste do Brasil e por onde passa parte relevante da produção nacional. Para o caminhoneiro, o trecho não melhorou desde que a rodovia foi privatizada, em 2008, mesmo com as obras de duplicação começando a sair do papel.
"Já demorei seis horas para ir de lá (Serra do Cafezal) a São Paulo, quando o normal é fazer em duas horas", disse à Reuters, enquanto preparava o almoço na cozinha portátil de seu caminhão, num pátio à beira da rodovia. "É uma catástrofe."
A história de Darci ilustra um aspecto recente dos problemas de logística do país, em que as tentativas do governo federal de sanar a historicamente precária infraestrutura --concedendo ao setor privado a administração de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos-- vêm esbarrando em questões ambientais, legais e políticas.
Em jogo, muito além dos preparativos para sediar a Copa do Mundo, neste ano, e as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, está o ambicioso plano do governo da presidente Dilma Rousseff de atrair centenas de bilhões de reais em investimentos na logística para melhorar a competitividade brasileira.
Obras como a da Serra do Cafezal enfrentam imensos obstáculos legais, ambientais e regulatórios para avançar.
Ao longo de três meses, a reportagem da Reuters visitou obras de algumas das principais concessões do Brasil e conversou com representantes do governo e especialistas.
A constatação é que o salto necessário à logística depende de tempo, mais dinheiro público e privado, maior planejamento e aperfeiçoamentos legais para evitar situações como a da Régis Bittencourt --que precisou esperar 20 anos para que a Justiça e os órgãos ambientais liberassem a duplicação de um de seus trechos mais perigosos.
Fonte: Reuters