A China não se classificou para a Copa do Mundo do ano que vem, mas o país tem presença garantida nos estádios brasileiros.
Uma enxurrada de produtos verde-amarelo "made in China" está sendo preparada na cidade de Yiwu (leste), que abriga o maior mercado atacadista do mundo.
Conhecido por abastecer o comércio global de quinquilharias e as lojas de R$1,99 do Brasil, o mercado de Yiwu é quase uma cidade dentro da cidade. São 70 mil lojas numa área de 4,7 milhões de metros quadrados --equivalente a 45 estádios do Morumbi.
No setor de artigos esportivos, o clima é de Copa do Mundo. Bandeiras do Brasil cruzam os corredores e comerciantes do mundo inteiro negociam o preço dos acessórios que estarão nas mãos dos torcedores no Mundial.
Cornetas, perucas, bandeiras, cachecóis, chapéus, bolas e muito mais estão em exibição nas dezenas de lojas, e a grande maioria tem as cores do Brasil.
"É o país mais popular", diz Tiang Di, dono de uma das lojas. "Comerciantes que vêm do Oriente Médio, da Rússia e da Europa compram bandeiras de seus países, mas sempre levam algo do Brasil."
Pela procura até agora, os comerciantes de artigos esportivos de Yiwu estimam que a fama do futebol brasileiro fará com que as vendas alcancem um volume duas vezes maior do que na última Copa, na África do Sul.
No Mundial sul-africano, 90% das vuvuzelas, a corneta que castigou ouvidos mais sensíveis, foram feitas na China. Na Copa do Brasil, a invasão chinesa deverá acontecer em escala menor, mas ainda será avassaladora.
"É difícil fazer um cálculo, mas acho que dois terços dos produtos da Copa serão chineses", afirma Lu Zhu Yang, dona de uma fábrica de bandeiras perto de Yiwu.
"Mesmo com a competição de outros países que produzem barato, como Vietnã e Bangladesh, a China ainda leva vantagem. Temos preço, qualidade e cumprimos os prazos", diz ela.
A maioria do que é vendido no mercado, uma versão gigantesca da paulistana 25 de Março, tem origem em fábricas no sul e sudeste da China, e nas cercanias de Yiwu.
BANDEIRAS
A 100 km dali, no empobrecido vilarejo de Wuyi, a fábrica de Lu Zhu Yang passou nos últimos meses a fazer exclusivamente artigos da Copa.
Segundo ela, sua fábrica é a maior produtora de bandeiras do Brasil na China e a única autorizada pela CBF. Até a Copa, o plano é produzir 30 milhões de bandeiras.
O aumento nos custos de produção na China nos últimos anos, incluindo salários e materiais, tem levado muitas fábricas a se mudar para países com mão de obra mais barata, como Mianmar.
Lu diz que a competição fez a margem de lucro encolher. Também se queixa das altas tarifas de importação cobradas pelo Brasil. Ainda assim, consegue manter o preço lá embaixo e faturar alto.
Ela prevê que até a Copa seus lucros com os produtos com as cores brasileiras chegarão a R$ 22 milhões.
Lu diz adorar o Brasil, onde já esteve várias vezes.
Um dos primeiros carregamentos para o país encalhou, porque os cachecóis tinham Brasil grafado com Z.
Na linha de montagem, o desconhecimento sobre o país-alvo é ainda maior.
Shen Yang Lin, 18, passa o dia debruçada sobre bandeiras do Brasil, arrematando as bainhas numa máquina de costura. Envergonhada, abre um sorriso curioso ao saber que o repórter vem do país que aquelas cores representam e que faz seu ganha-pão.
"Baxi?", diz Shen pensativa, repetindo a forma como os chineses chamam o Brasil. "Não sei nada de Baxi. Disseram que haverá um grande evento nesse lugar e por isso fazemos tantas bandeiras."
Em Yiwu, de pouco menos de 3 milhões de habitantes, tudo gira em torno do mercado. Do aeroporto supermoderno, em que intermediários abordam visitantes em várias línguas, aos hotéis, de onde partem tours de compras segundo o interesse do freguês.
Nesta babel do comércio, há de tudo para gostos e necessidades diversos. Bandeiras do Brasil estão ao lado de flâmulas do grupo fundamentalista palestino Hamas e de camisetas de campanha de um político de Honduras.
Natural de Cantão, o comerciante Ji Zhen Long divide-se entre Yiwu e o Rio, onde há 12 anos tem uma loja de presentes. Ele também reclama dos impostos no Brasil.
Mas sua maior bronca é ter ficado de fora do mercado da Copa, já que não tem o licenciamento dos produtos. "Não posso levar nem uma bola com o símbolo da Copa."
Fonte: Folha.com share via facebook