As autoridades italianas temem que mais de 300 pessoas tenham morrido após o naufrágio de uma barcaça de imigrantes perto da costa da ilha de Lampedusa, no mar Mediterrâneo. Até o momento, a Guarda Costeira resgatou pelo menos 94 corpos no mar.
As equipes de resgate afirmam ainda terem visto entre 20 e 40 corpos, o que pode elevar o número de mortos confirmados para um número entre 114 e 134. Outras 200 pessoas estão desaparecidas. As operações de resgate serão retomadas nesta sexta (4).
O navio partiu de Misrata, na Líbia, em direção a Lampedusa, território de domínio de um país europeu mais próximo do lado africano do mar Mediterrâneo. Segundo as autoridades de imigração italiana, a maioria dos passageiros vinha de Etiópia, Eritreia e Somália e pagaram a traficantes tunisianos para levá-los à Europa.
A Guarda Costeira afirma que o naufrágio aconteceu após o barco ficar à deriva a 550 m de uma praia da ilha italiana, na madrugada desta quinta-feira (noite de quarta em Brasília). Para pedir ajuda a outros barcos, o grupo usou sinalizadores, que caíram em um dos tanques de combustível, que pegou fogo.
O incêndio fez com que os imigrantes tentassem sair do barco superlotado, que desequilibrou durante a saída dos passageiros e virou em cima de alguns deles. A embarcação afundou e está a uma profundidade de 35 a 40 metros.
Os primeiros a encontrarem os imigrantes foram pescadores da região. Em entrevista à emissora SkyTG24, Rafaele Colapinto afirmou que tentou tirar os mortos, mas que a operação foi demorada. "Vimos um oceano de cabeças. Levamos meia hora para tirar cada um da água porque eles estavam envolvidos em óleo".
No porto, corpos estavam alinhados dentro de sacos mortuários verdes. Sem um lugar para colocá-los, eles foram levados depois para um hangar do aeroporto da ilha. O secretário de saúde da ilha, Pietro Bartolo, disse que foi obrigado a pedir caixões de outras localidades para abrigar os corpos das vítimas.
"Não temos mais lugar, nem para os vivos nem para os mortos", disse a prefeita de Lampedusa, Giusi Nicolini. "É um horror, um horror; eles não param de deixar corpos".
CRÍTICA
Revoltada, a prefeita Nicolini enviou um telegrama ao primeiro-ministro Enrico Letta pedindo que fosse contar os mortos com ela e acusou a Europa de "ignorar (...) o enésimo massacre de inocentes que acontece perto da ilha".
"Não posso deixar de expressar a miopia da Europa, que insiste em olhar só para o outro lado. Os imigrantes chegam à nossa ilha há anos e continuarão fazendo isso por muito tempo. Se as instituições não intervierem imediatamente, serão, inevitavelmente, cúmplices desse absurdo e vergonhoso massacre".
Ela lembrou que Lampedusa, mais próxima da costa norte-africana do que da Sicília, é "há anos" o destino dos imigrantes clandestinos. "Venha contar os mortos comigo", disse, em um telegrama ao chefe de governo. Letta decretou luto oficial para sexta-feira (4), mas ainda não viajou à ilha.
O representante do governo que chegou ao local da tragédia foi o vice-premiê, Angelino Alfano. "É um drama europeu, não apenas italiano", explicou Alfano, pedindo que a Itália, que recebeu 25.000 imigrantes este ano (três vezes mais do que em 2012), possa estender suas patrulhas "para além de suas águas territoriais".
A ministra da Integração, Cécile Kyenge, originária da República Democrática do Congo e primeira negra em um governo italiano, pediu uma coordenação europeia para formar "corredores humanitários com o objetivo de tornar mais seguras essas travessias, que registram a atuação de grupos criminosos".
O Papa, que visitou Lampedusa em sua primeira viagem para fora de Roma, no início de julho, falou de "vergonha", tendo-se em vista as "várias vítimas de mais esse naufrágio".
Segundo a rede de ONGs Migreurop em Paris, em vinte anos, 17.000 imigrantes morreram tentando chegar à Europa. A maior tragédia até hoje aconteceu em junho de 2011, quando de 200 a 270 imigrantes originários da África Subsaariana se afogaram tentando chegar a Lampedusa.
Fonte : Folha.com Share via Facebook