Em minha primeira semana de trabalho em uma start-up (empresa iniciante de tecnologia), ganhei barriga. O motivo óbvio: havia comida grátis por toda parte, ela era deliciosa e eu estava ansiosa.
Tudo começou de modo inocente. Na segunda-feira, apareceram biscoitos recém-assados na cozinha. Depois, foram bolinhos amanteigados --parece que era o aniversário de alguém. Ao meio-dia, os funcionários se reuniram para o almoço servido por um bufê: churrasco. Duas horas depois, um carrinho de iogurte grego gelado entrou no escritório. Às 17h, meu vestido estava apertado.
E isso só no primeiro dia.
Minha empregadora, a empresa de óculos Warby Parker, não é exceção. As pequenas empresas de tecnologia têm a reputação de inundar os funcionários com benefícios. Na Sun Microsystems, as mães lactantes ganharam salas para amamentar. Já a Cisco ofereceu serviços de tinturaria e pipoca aos seus empregados.
Em seu último livro, "Finding the Next Steve Jobs" (procurando o próximo Steve Jobs), Nolan Bushnell, que fundou a Atari, recomenda que se permita aos empregados tirar um cochilo --como Steve Jobs, que instalou um futon (colchão japonês) embaixo de sua mesa. Mas a restrita oferta de mão de obra capacitada para as start-ups em Nova York produziu um ambiente ainda mais agradável e suntuoso.
Veja a Squarespace, plataforma de publicação na web fundada em 2004. Lá, enquanto os empregados trabalhavam silenciosamente, exceto pelos rápidos cliques de teclados, uma mulher transportava pratos de camarão com quiabo e salada de quinoa até um bufê. As refeições do meio-dia são preparadas pela empresa quatro dias por semana. (No quinto, eles encomendam.) Há também uma geladeira cheia de cervejas.
Em outra manhã, no Tumblr, um rapaz serviu-se de um copo de água mineral gasosa (da torneira) e sentou-se para o café da manhã: um prato cheio de bacon. Seus colegas beliscavam doces, bebiam café e buscavam na geladeira seu iogurte preferido.
E não vamos esquecer o básico.
"Tomamos café coado na hora o tempo todo", disse Dan Logan, 28, da Bitly. Os funcionários também podem preparar bebidas na máquina Jura Impressa X9 Platinum do escritório (que custa a partir de US$ 6.500).
Depois há a bebida alcoólica. Artsy, uma plataforma de avaliação de arte, oferece um happy hour semanal em seu escritório (com chope à vontade). A Birchbox mantém sua geladeira abastecida de champanhe para comemorações, e o Tumblr oferece chope. Mas, no que se refere a drinques, a publicação de estilo de vida "Thrillist" tem dois bares totalmente abastecidos e uma agenda de degustação de bebidas.
"Uísque e tequila estão sempre disponíveis", disse Devon Giddon, 27, diretor de comunicações da empresa. "Para não falar do barril de cerveja na geladeira, sempre no ponto."
Com as start-ups subsidiando lanches e bebidas, é fácil ganhar peso. Entretanto, muitas empresas oferecem programas em academias de ginástica e aulas de ioga.
"Tentamos oferecer um ambiente onde os empregados se sintam realmente à vontade", disse Andrew Burke, 28, da Squarespace. "Isso traz recompensas em termos do trabalho que é feito e dos resultados que acontecem."
Não é de surpreender que os funcionários defendam seus benefícios. "Eu não acho que tomar cerveja no escritório seja decadente", disse Martin Mulkeen, 29, da Birchbox.
Outros empregados afirmam que passam mais tempo no trabalho graças aos luxos.
Bushnell, da Atari, um veterano do mundo start-up, foi indagado sobre onde traçar a linha entre "benefício produtivo" e "decadência imoral". Sua resposta: bem, ele não traça.
A lição me calou profundamente. Eu não podia perder todas as minhas roupas novas. Desde então, mantive o controle do meu consumo de guloseimas. Se eu falhar, uma academia de ginástica subsidiada me aguarda.
Fonte: Folha.com share via Facebook